Gracie Carvalho, ex-top da VS, fala sobre racismo e muay thai

Gracie Carvalho (Foto: Divulgação)
Gracie Carvalho (Foto: Divulgação)

A top model Gracie Carvalho participou de Live esta semana no instagram do “Elas no Tapete Vermelho” e falou sobre sua carreira de modelo, que começou aos 16 anos, depois de participar de um concurso na cidade onde morava, São José dos Campos. Contou também como foi desfilar pela primeira vez para a Victoria’s Secret, para qual cruzou a passarela em 2010 e 2015. “Depois do primeiro desfile para a marca em Nova York, fui para o Time Square e comi um McDonalds!, revelou.

A modelo, que tem 16 irmãos, falou também sobre racismo: “É bonita essa onda de postar na internet, mas o mais importante é continuar a praticar o antirracismo e se colocar na pele da pessoa que sofre com isso”, afirmou. Gracie disse já ter passado por uma situação constrangedora. “Numa prova de roupas em São Paulo, a estilista disse a suas assistentes para chamar aquela ‘pretinha'”, contou. Na hora, não fez nada, mas disse que foi constrangedor. “Hoje teria partido para cima”.

E se fosse hoje, a pessoa teria que se cuidar, porque Gracie é praticante de artes marciais e tem a intenção de fazer uma luta profissional de muay thai. “Gostei tanto que quis conhecer o país onde a luta foi criada, a Tailândia. Fui para lá e me apaixonei pelo lugar.”, contou a top, que mora em Nova York, mas está passando a quarentena em São Paulo, com o namorado, o chef de cozinha Raphael Cesana, dos restaurantes Chez Oscar e Orfeu.

 

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Veja abaixo trechos da live e depois assista a entrevista completa no link, que está no fim da matéria.

Começo

“Com 10 anos, eu jogava futebol, e o técnico me chamava de Naomi (Campbel, modelo inglesa, hoje com 50 anos) e eu nem sabia quem era. Com 16 teve o concurso Oscar Fashion Days, em São José dos Campos, onde morava, e fui com minha irmã, que tinha o mesmo físico que eu. Minha mãe falou que para as duas irem. mas eu não queria de jeito nenhum. Fui e acabei sendo uma das finalistas.  A partir daí, vim para São Paulo e as coisas começaram a acontecer muito rápido.”

Victoria´s Secret

“Nem lembro o primeiro desfile que fiz na vida, mas sempre que vou fazer o desfile me dá frio na barriga. Claro que o da Victoria’s Secret tira do sério. O corpo da gente entra em choque, porque o desfile acaba exigindo muito de você. É sonho de todas as modelos. Tem uma cobrança muito grande não da marca, mas da gente mesmo, da parte psicológica e do corpo. Afinal, é um desfile de lingerie e todas as meninas ficam enlouquecidas para estar com o corpo em forma. A gente se cobra bastante. Tem muito exercício, dieta. Não é um desfile comum, de roupa normal, em que a gente entra e mostra a roupa e pronto. E o desfile da VS é para para mostrar também sua personalidade. Para mim, foi muito difícil porque eu era muito tímida. Não estava preocupada com meu corpo, mas em não conseguir entrar e mostrar minha personalidade, mandar beijos e sorrir. Sofri demais antes, mas deu tudo certo. Para mim, se eu chegasse lá na frente e desse um sorriso já estava maravilhoso. Em 2015, eu já tinha trabalhado bastante com a marca, eu e me senti mais a vontade. Estava mais madura, mais mulher.

Gracie carvalho, no desfile da Victoria's Secret em 2010 (Foto: Divulgação)
Gracie carvalho, no desfile da Victoria’s Secret em 2010 (Foto: Divulgação)

McDonald’s

“No primeiro desfile, não tive tanto essa cobrança em relação á dieta. mas no segundo desfile me cobrei muito mais. Depois do primeiro desfile, fui à Time Square (junção da avenida Broadway com a 7ª Avenida), e comi um McDonald’s. Eu queria comer um lanche e comi.”

Preparação para os desfiles

“Não pode ser uma preparação a curto prazo. É preciso se cuidar da forma que você se sinta a vontade com com seu corpo. Isso para não ficar nesta loucura de última hora. Assim, se aparecer um trabalho de lingerie, você está preparada. Por isso, pratico esportes, sempre gostei de academia para não ficar pirando nestas dietas loucas.”

Racismo

“Quando vejo notícias sobre racismo me chega dar ânsia. A gente sabe que há pessoas racistas. Tomara que mudem e que pratiquem o antirracismo. (…) Tem que ter leis que funcionem. Todo mundo tem que se reeducar de alguma forma. É bonita essa onda de postar na internet, mas o mais importante é continuar a praticar o antirracismo e se colocar no lugar da pessoa que sofre com isso. Quando vejo uma notícia que me afeta, a primeira coisa que vem à minha cabeça é minha família. É preciso praticar a compaixão. E se você se colocar no lugar do atingido ou colocar um membro de sua família no lugar, vai começar a enxergar o problema de outra forma. O povo acha normal e tem preguiça de estudar, de ler um livro sobre o assunto. Tem tanta live bacana sobre o assunto (..).

Raiva

“Quando vejo notícias como essa (morte por asfixia praticada por um policial em George Floyd, nos Estados Unidos), sinto raiva. Se eu for para uma protesto como esses não sei o que aconteceria. Estamos vivendo um momento tão difícil e tão importante. Agradeço a oportunidade de poder falar sobre isso aqui. Não só sobre a carreira, mas também a oportunidade de me posicionar e de falar sobre o que está acontecendo. Não podemos deixar passar.”

Cadê a pretinha?

“Eu sofri, mas era mais nova e não percebia como uma coisa mais forte. Na época, não tinha uma personalidade para me colocar na situação. Mas se transportar a situação que vivi para hoje, acho que teria ido para cima da pessoa e teria feito alguma coisa. Eu estava esperando para fazer uma prova de roupa e a estilista disse para as assistentes “Cadê a pretinha”, mas com um jeito que me deixou constrangida. Só que ela não tinha me visto ali, o pessoal que trabalhava com ela ficou muito sem graça, mas na hora não tive reação. A partir do momento que ela viu que eu estava aqui, ela começou a elogiar a cor da minha pele e coisas assim.  Foi na época das cotas raciais no SPFW e, apesar de preferirem tipos mais europeus, tinham que colocar negras. Já ouvi falar outras conversas em tom racista dessa mesma pessoa. É muito triste.”

Muay thai

“Quando entrei pela primeira vez numa academia em Nova York, para fazer capoeira, percebi que era uma universo muito masculino. Toda a academia parou para me olhar. Fiquei sem jeito e só voltei depois de muitos anos. Era muito tímida e vendo aquele bando de homem, percebi que não ia dar certo. Mas as mulheres têm que mudar isso. Não dá para deixar de fazer algo que goste só porque tem muito homem. Depois de muitos anos, voltei para a academia para fazer o muay thai e muita coisa mudou. Não sei onde minha timidez foi parar. Não tenho mais essa coisa de diferença entre homem e mulher. A gente tem que chegar onde quer sem deixar essa diferença nos atingir.”

Gracie lutando muay thai na Tailândia (Foto: Divulgação)
Gracie lutando muay thai na Tailândia (Foto: Divulgação)

Assalto

Fui assaltada em São Paulo e a pessoa não queria só o celular e a bolsa, mas queria que eu descesse uma viela. Percebi que poderia ter ser estuprada. Ele desistiu de me levar e entrei num bar, também cheio de homens, para pedi ajuda. Fiquei com isso na cabeça. E por muito tempo, tive medo de vir ao Brasil. Entrava no avião e minha cabeça fica pirando, achando que ia ser assaltada. Percebi que precisava mudar isso. A arte marcial e a defesa pessoal me ajudaram. Hoje, se eu saio na rua e se acontecer alguma coisa e eu vir que posso fazer algo, eu faço sim. Comecei com defesa pessoal e meu professor passava algumas técnicas do muay thai, como cotovelada e joelhada. Ele viu que eu tinha jeito para o muay e falou que eu deveria apostar nisso. Acabei adorando.

Nariz quebrado

“Já aconteceu de me machucar sim, mas foi no jiu-jítsu. A menina com que eu lutava passou o calcanhar no meu nariz, na hora saiu muito sangue e estava quebrado. Era véspera de temporada eu ia para Paris (…). Fiquei pensando como ia falar falar para minha agência, mas eles acabaram entendendo, porque sabem que é uma paixão minha. O nariz ficou um pouco marcado…Tive também uma lesão no ligamento do joelho e senti muita dor. Em algumas fotos, não conseguia posicionar a perna direito.”

Tailândia

“Como me apaixonei pelo muay thai, quis conhecer o país onde ele nasceu. Acabei me apaixonando pela Tailândia. Pensei também em criar uma projeto para mostrar as mulheres que lutam. Escrevi minhas ideias para um documentário, mas ainda não consegui encontrar as pessoas certas para fazer comigo. Quero uma coisa bem verdadeira e real, nada muito certinho. Quando cheguei lá, não tinha mulher na academia em que fui. Era só eu e minha amiga. Eles te tratam como homem, até levei um soco no estomago. O país é muito machista também.  mas de dois anos para cá, a gente tem visto mulheres lutando e são mulheres maravilhosas.”

Gracie Carvalho (Foto: Divulgação)
Gracie carvalho (Foto: Divulgação)

Mudança de corpo

“A prática não mudou meu corpo. O muay thai é muito cardio, então a gente fica até mais seca. Mas hoje a situação está maravilhosa até para modelos, porque não há mais a exigência de que a  modelo tem que ser só magra e alta. O mercado abriu muito. Tem as plus size, as fitness. Então, dá para ser modelo e lutar muay thai. Se eu tenho o sonho de fazer uma luta profissional vou fazer. Não vou ficar pensando só no corpo de modelo. E também porque minha carreira de modelo vai acabar e não quero depois pensar porque perdi essa oportunidade.”

Luta profissional

“Não comecei a me preparar, mas queria fazer uma luta profissional esse ano, em que completo 30 anos (dia 23 de julho). Mas aí veio a pandemia e estragou tudo.”

 

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Treinos em casa

“Treino todos os dias da semana, menos um, para descansar o corpo. É importante para quem malha ter um dia de folga, porque o músculo precisa descansar também. Não é treino de muay thai, porque para isso teria que ir a uma praça para praticar. Tenho focado mais em musculação, cardio, bicicleta. O celular não é um amigo dessas horas, porque a gente se distrai bastante, vendo instagram, respondendo mensagens, por causa dessas interrupções, meu treino diário dura de uma hora e meia a duas horas.”

Comida

“Eu e meu namorado (o chef de cozinha Raphael Cesana) Somos muito fitness, gostamos de comer muito saudável. E dividimos tudo. Quem faz o almoço, não faz a janta, quem cozinha não lava a louça.Ele não reclama de minha comida, mas não gosta de que eu vá à cozinha quando ele está cozinhando. A gente gosta de comer sempre a mesma coisa todos os dias: arroz, brócolis, carne vermelha ou frango. Quando a gente é mais nova, quer comer qualquer coisa, como lasanha etc. Hoje, se eu como essas coisas, o meu corpo avisa, porque já se acostumou com essa comida saudável. Não tenho vontade de comer doce, chocolate.”

Moda pós-quarentena

“É um tema muito delicado, porque trata-se da saúde, o que envolve muito medo. Mas ao mesmo tempo a moda gira a economia, emprega muita gente. Eu acho que até outubro ou novembro, alguma coisa deve ser feita. Não sei se vai ter desfile só com modelo, a galera toda protegida, mas acho que vai ter sim alguma coisa. O pessoal vai ter que começar a trabalhar e ganhar dinheiro.”

Campanha em casa

“Fiz umas fotos para a C&A, em casa, com o Iudi (Richele) que fotografou via facetime. É um mundo mundo novo. A gente não sabe como vai estar a luz, se o ângulo está certo. Não sou desse tipo de mulher que gosta de se maquiar sempre, mas fiz o cabelo, maquiagem, fui a stylist. Dei uma enlouquecida, porque é para a campanha do Dia dos Namorados e tive que arrumar meu namorado também. A gente vai se descobrindo, vendo as possibilidades que podemos fazer.”

Planos de atriz

“Tenho tantso sonhos, que meu namorado diz que cada dia eu quero ser uma coisa. Eu acho que não tem problema em querer fazer muita coisa, desde que seja bom. Tenho muita vontade de fazer cinema. Depois que entrei no muay thai, tive ainda mais vontade de fazer um filme de ação, de uma mulher que seja poderosa. Mas tem muita coisa envolvida, tem que ter sorte, talento. Eu acho que deve ser um mundo difícil. Às vezes estou num trabalho cansativo, que demora quatro dias e  penso, como eu posso querer ser atriz, porque um filme demora meses. Eu fiz apenas um workshop de um fim de semana e foi muito difícil. Muita tarefa, muito exercício para se autoconhecer. É muita dedicação e tem também muita concorrência, assim como na carreira de modelo.”

 

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#flashbackfriday @victoriassecret #victoriassecret #VSFS

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Nãos

“Recebi muitos ‘nãos”, mesmo dentro da Victoria’s Secret. Eu fiz dois desfiles apenas, entre 2010 e 2015, mesmo passando por vários castings para os outros desfiles, não fui aprovada. Muta gente me perguntava por que, mesmo lá dentro, fazendo as fotos,  eu não desfilava. Mas era assim. E os muitos “nãos” não me pararam.”

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A top model @graciecarvalhoo fala com @roespinossi sobre #racismo, Victoria’s Secret, muay thai é muito mais

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