Stylist e diretor criativo, Bruno Pimentel construiu uma trajetória marcada pela união entre moda, música e imagem. Reconhecido por transformar estilo em narrativa e representar vozes plurais, acredita que vestir é também amplificar mensagens. Com passagens por grandes revistas e colaborações com nomes como Gaby Amarantos e Érica Hilton, Bruno usa a moda como ferramenta de expressão e resistência.

Em entrevista exclusiva ao Elas no Tapete Vermelho, o profissional fala sobre sua origem, o poder simbólico da roupa e a importância da diversidade no mercado. Com mais de uma década de experiência, reflete sobre o papel do stylist na construção de imagens autênticas e sobre como a moda pode — e deve — dar visibilidade a quem historicamente ficou à margem. Confira a entrevista completa abaixo.

Elas no Tapete Vermelho – Para começar, explica um pouco qual é o trabalho de um stylist.
Bruno Pimentel – O stylist cria imagens, linguagens e códigos — tudo isso utilizando a moda como grande ferramenta. A moda é um grande amplificador de vozes. Você para para ouvir uma pessoa bem-vestida e presta muito mais atenção no que está sendo dito por ela. O stylist reúne todos esses pontos e cria uma imagem ou linguagem para o mundo.
Elas no Tapete Vermelho – Como e por que você abraçou essa profissão? Conte um pouco da sua história na moda.
Bruno Pimentel – Na verdade, eu fui abraçado. Minha avó era costureira e sempre fui fascinado pelo universo da costura. Nasci na roça e, lá, a perspectiva de se trabalhar com moda era nula — inclusive “moda” nem era uma palavra utilizada, ainda mais para um homem. Minha avó percebeu esse encanto e me ensinou, escondido, a costurar quando eu tinha uns 9 ou 10 anos. Logo após a partida dela, me senti na obrigação de seguir esse legado, mesmo com minha família sendo totalmente contra. “Costurar não é coisa pra homem” era a frase que eu mais ouvia na infância. Depois, fui correr atrás do meu sonho e fui levado pela vida. Cheguei até a Vogue, onde fui colaborador, e hoje sigo vestindo várias celebridades e assinando capas pelo mundo afora.

Elas no Tapete Vermelho – Você trabalha com pessoas que valorizam a representatividade. Por que essa opção e como a moda pode levar essa mensagem às demais pessoas?
Bruno Pimentel – Nunca foi uma opção, sempre foi uma necessidade. Entendi o poder que a moda tem sobre as pessoas. A forma como você se veste faz com que seja ouvido do jeito que deseja. Volto a falar que a moda serve como amplificador de vozes. Durante muitos anos, trabalhei com pessoas que não me representavam ou que, muitas vezes, não tinham nada a dizer. Por uma necessidade pessoal e profissional, busquei pessoas que admirasse e que pudessem falar por mim. Precisei encontrar uma lógica no meu trabalho. A moda, em si, é muito efêmera, e eu desejo fazer algo que agregue às próximas gerações.

Elas no Tapete Vermelho – Gaby Amarantos e Erika Hilton são pessoas com quem você trabalha e que levam essa visão ao público. Explica como elas são exemplos dessa diversidade e como passam tal visão através da moda.
Bruno Pimentel – Vamos por partes (risos). A Gaby é uma potência. Ela carrega no DNA algo único. Usa a moda como ferramenta de expressão e traz consigo toda a sua origem e o seu povo. Muitos não entendem seu “maximalismo” — e esses mesmos “muitos” não conhecem o Norte. Ela é plural e foge (que bom!) do óbvio.
A Erika não precisa de muita explicação! É a maior representante dos nossos direitos.
Ela faz da moda, e muito bem, o seu amplificador de voz. Acessa lugares que político algum acessaria. A moda abre esse caminho para ela, assim como sua vocação para se comunicar de forma real e verdadeira. Não faz questão de ser careta nem na fala nem na voz.

Elas no Tapete Vermelho – Além delas, com quais outras pessoas famosas você trabalhou?
Bruno Pimentel – Uma lista extensa! Tive a sorte de encontrar muita gente incrível nesse caminho: Letícia Colin, Maria Gadú, Cris Vianna, Alcione, Dira Paes, Paolla Oliveira, Lenine, Mariana Aydar, Flávia Alessandra, Otaviano Costa… e muitos outros.
Elas no Tapete Vermelho – Você trabalhou no álbum Rock Doido e ajudou a criar o look com o qual Gaby se apresentou no Amazônia Live. Como é o processo de criação para trabalhos como esse?
Bruno Pimentel – O Rock Doido foi doido mesmo! (risos). Foram 250 pessoas. Eu nunca tinha assinado algo tão grande e achei que não fosse dar conta. Mas Gaby acreditou mais em mim do que eu mesmo. Fui com medo, mas fui — e, no final, foi um dos trabalhos mais incríveis da minha vida. Tenho muito orgulho. Eu e Gaby temos uma sintonia fora do comum. Ela é uma gênia! A gente sempre quer desafiar nossa criatividade.

Elas no Tapete Vermelho – Como foi a troca com a cliente e a pesquisa? Quanto tempo leva para construir um trabalho assim?
Bruno Pimentel – Geralmente, os looks são criados a partir das vivências e dos desejos da Gaby. Durante muito tempo, ela tinha ideias, mas não conseguia executar. Hoje em dia, a gente faz! Nosso trabalho é experimental: testamos coisas o tempo todo. Não manuseio só tecido — é ferro, LED, laser, acrílico, cabelo… até bolo já fizemos! Dessas experimentações nascem as ideias. Depois, procuramos algum estilista que consiga executar nossas criações.
Elas no Tapete Vermelho – Você acredita que a moda brasileira está inserida na pauta da diversidade hoje em dia? O que falta para que essa agenda seja realmente cumprida?
Bruno Pimentel – A moda só se insere por conveniência. As pautas sobre diversidade nunca foram o ponto forte da moda — nem aqui no Brasil, nem lá fora. A moda ainda é elitista e classista. Infelizmente, na cabeça de algumas pessoas que comandam as marcas, quem gasta é gente branca, hétero e magra. Ainda há um caminho muito grande a ser percorrido, mas, para que ele exista, as pessoas precisam querer — e não falo das que consomem, e sim das que promovem a moda.

Elas no Tapete Vermelho – Quais conselhos você dá para uma pessoa comum se vestir — seja no dia a dia ou em eventos? Seguir tendências? Ser fiel ao próprio estilo? Como descobrir qual é o seu estilo e como incluí-lo na rotina?
Bruno Pimentel – Seja você. Escute seu corpo, se permita e saiba o que te traduz. Não tente ser a blogueira “X”, porque ninguém é igual a ninguém. Somos únicos — e isso é uma qualidade. Seguir tendências ou se inspirar em alguém pode ser um caminho, mas não é o destino. Inspirar-se é diferente de copiar. Adapte o que te agrada ao que realmente te veste bem. Partindo desse princípio, fica mais fácil se vestir para qualquer ocasião, seja um evento ou o dia a dia.