Giorgio Armani, o “alfaiate” que redefiniu a moda dos anos 1980

O vestuário feminino não seria o mesmo sem Giorgio Armani, estilista natural de Piacenza, Itália, que morreu nesta quinta-feira (4), em Milão, aos 91 anos, no ano em que sua marca completa 50 anos, que seriam comemorados justamente na semana de moda de Milão, neste mês, que agora se transformará em homenagem póstuma. E, claro, nem o vestuário masculino seria o mesmo.

Giogio Armani (Foto: @sgpitalia/Reprodução/Instagram/@giorgioarmani)
Giogio Armani (Foto: @sgpitalia/Reprodução/Instagram/@giorgioarmani)

A grife que leva seu nome foi lançada em 1975, com ternos masculinos menos rígidos, mas sem deixar de lado os códigos da alfaiataria. No ano seguinte, foi criada a linha feminina, com o mesmo apelo. E em 1980, com o filme “Gigolô Americano”, com todo o figurino usado por Richard Gere desenhado por ele, veio a virada de chave na até então muito rígida moda masculina.

Richard Gere em "Gigolô Americano", de 1980 (Foto: Reprodução/IMDB)
Richard Gere em “Gigolô Americano”, de 1980 (Foto: Reprodução/IMDB)

No filme, o personagem Julian usava blazer também como um acessório, não só vestindo, mas nos ombros, nas mãos. “Nos anos 1980 e 1990, Armani renovou toda a estrutura do guarda-roupa masculino dando ao homem mais liberdade, jovialidade e conforto. Os tecidos eram extremamente elegantes, mas com caimento suave. Ao tirar de certa forma as estruturas das roupas, ele leva essa roupa mais perto do corpo das pessoas, criando um impacto gigantesco de conforto e de percepção da qualidade das matérias”, afirmou o estilista e pesquisador de tendências Walter Rodrigues, ao “Elas no Tapete Vermelho”.

Terno feminino Armani de 1993 (Foto: Reprodução)
Peça publicitária de Girogio Armani de 1993 (Foto: Reprodução)

E isso também foi percebido pelas mulheres, que se jogaram no mercado de trabalho, disputando postos de comando com os homens. A indumentária de trabalho feminino logo incorporou o blazer, usado com saias justas ou calças compridas, nesse jogo de forças nas corporações. “Nos anos 1970, a gente tinha essa liberdade, essa sensualidade de se vestir, com o chamado hippie chic. Aí ele chega com a alfaiataria, misturando rigidez com delicadeza e sensualidade. Isso acabou redefinido a maneira como as mulheres se vestiam e se vestem até hoje”, disse o consultor de moda Arlindo Grund, ao “Elas no Tapete Vermelho”. “O legado dele foi costurado justamente na simplicidade das linhas que trazem também essa aura de sofisticação”, complementou.

Se hoje, os blazers oversized femininos estão entre as principais trends do chamado corpcore (ou moda de escritório) é porque Giorgio Armani há 50 anos resolveu criar os “casacos sem estruturas”, principalmente em tons que iam entre o bege e o cinza. Se hoje, o quiet luxury também está entre as tendências é porque há 50 anos, o estilista italiano não abriu mão de um corte perfeito, acabamentos perfeitos e tecidos impecáveis: “Uma roupa luxuosa sem jamais ser ostensiva”, como descreveu o autor François Baudot em seu livro “A moda do Século”, lançado no Brasil em 2002. “Além de dar aos jovens businessmen, bem como à elegância de suas parceiras femininas, o toque de glamour, de sensualidade e sedução que normalmente faltava na roupa de todo dia”, completou o escritor.

Mas se no dia a dia, o estilista redifiniu a moda masculina e feminina, na alta-costura, sua Armani Privé, cujo primeiro desfile em Paris ocorreu há 20 anos, mostrou um luxo extraordinário. Aliás, a exposição “Giorgio Armani Privé 2005-2025, Vent’anni di Alta Moda” estará aberta ao público até 28 de dezembro de 2025, no Armani/Silos, em Milão, Itália.

“Ele tinha um olhar preciosista pela matéria. Quando você olha para a alta-costura que ele produzia, via abordados inimagináveis, além da forma como ele aplicava as cores as texturas dos tecidos, o olhar dele para para o Oriente, fazendo sempre um confronto muito claro com o Ocidente. Um mestre”, acrescentou Walter Rodrigues. “Ele tem uma contribuição gigantesca para a história da moda. É um nome que vai ficar junto com todos os outros grandes, como Balanciaga, Madame Vionet, Christian Dior”, acrescentou.

Um exemplo do que Rodrigues disse pode ser visto no look usado por Fernanda Torres no tapete vermelho do Festival de Veneza, semana passada. Um conjunto de calça comprida e casaco reto nude, totalmente bordado, que desfila entre o discreto e o luxuoso. A peça foi apresentada na semana de alta-costura de Paris, em janeiro. Na tradicional foto que Armani tirava com as modelos, o conjunto estava em destaque ao lado dele.

Amir Slama, Giorgio Armani e Fernanda Calfat (Foto: Acervo Pessoal/Fernanda Calfat)
Amir Slama, Giorgio Armani e Fernanda Calfat (Foto: Acervo Pessoal/Fernanda Calfat)

“Tive o prazer de recebê-lo num desfile em Nova York alguns anos atrás, depois foi à nos after party. Um simpatia de pessoa”, lembrou o estilista Amir Slama. “Um ícone da elegância italiana que transformou sua marca em objeto de desejo por gerações”, concluiu Slama.

Armani sempre esteve à frente de sua marca desde o lançamento, sem precisar se associar a grandes conglomerados, mesmo diversificando estratégias, seja restaurantes, alta-costura, prêt-à-porter e etiquetas mais esportivas e acessíveis, como Armani Exchange.

Tão presente nas decisões da empresa até o final, em entrevista recente, anunciou Leo Dell’Orco, que trabalha com ele desde 1977 e é chefe do design masculino como possível sucessor. “Giorgio Armani é uma empresa com 50 anos de história, crescida com emoção e paciência. Giorgio Armani sempre fez da independência, pensamento e ação, sua marca. A companhia é o reflexo, hoje e sempre, desse sentimento. A família e os funcionários levarão o grupo adiante no respeito e continuidade destes valores”, disse o comunicado que anunciou sua morte.

“O velório acontecerá a partir de sábado, dia 6 de setembro, e estará disponível até domingo, dia 7 de setembro, das 9h às 18h, em Milão, na Via Bergognone 59, perto do Armani/Teatro. Devido à vontade expressa do Sr. Armani, os funerais serão realizados de forma particular”, concluiu o comunicado da marca.

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