Ronaldo Fraga não é óbvio nunca. Em seu retorno ao SPFW, no seu primeiro desfile presencial após a pandemia, mostrou a coleção “Minas Nascimento”, em homenagem ao cantor Milton Nascimento. O Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, foi o local escolhido.

“Antes de ser nota, melodia e letra, Milton é chão, céu e montanha”, escreveu o estilista mineiro no material de divulgação. Assim, com trilha sonora de músicas de Milton, mas cantadas de forma pessoal e sensível por outros artistas, a apresentação aconteceu como uma procissão. No final, “Maria, Maria” na voz de Milton preencheu de poesia o teatro do museu, cujo teto refletia desenhos de Ronaldo e fotos do cantor.

O cortejo, com looks tingidos de marrom manchado, representando o chão, a terra e o amor do cantor por sua Minas Gerais.

Azuis do céu vinham em tonalidades escuras, em roupas com bordados de pássaros.
Aliás, os bordados, os crochês, as construções de peças feitas a partir de pedaços de tecidos traziam a essência de Ronaldo.
Linhos, tafetás e jeans vinham nada óbvios, em modelagens amplas, em patchworks com crochês e tecidos, com desfiados e estampas que reproduziam capa de disco, como a icônica fotos dos dois garotos do disco Clube de Esquina. Ponta de Areia e outras músicas eram retratadas nas roupas e na trilha sonora.

Nesta procissão tramada com crochê, bordados, linhas e agulhas, os romeiros trocaram as velas por luminárias aplicadas em suas cabeças com a forma das montanhas de Minas. A partir de um recorte da infância de Milton, surgem crianças como anjos e a referência religiosa. Foi uma linda e sensível homenagem ao cantor, diagnosticado recentemente com demência.



