A 56ª edição da Casa de Criadores terminou neste domingo (27), no Centro Cultural São Paulo, com cinco desfiles que trataram de luto, de luta, de resistência, de preservação da memória e delicadeza feminina.

Aos 81 anos, a estreante Marisa Moura apresentou uma coleção que resgata a cultura negra, com looks de algodão cru, barbabte e juta, com muita música, dança e alegria. Aliás, a voz dos negros também foram representados no desfile da Afro Perifa, com coleção que se chama “Luto à Luta”, abordando a perseguição, que muitas vezes termina em morte, das pessoas negras.

O luto guiou a apresentação de Jal Vieira, que perdeu sua tia Maria de Lourdes, a Lulu, uma segunda mãe para ela, em março. Já a UMS485-LL, de Lucas Lyra, resgatou sua própria memória, ao voltar a 2009, quando o criador morou em Nebraska, nos Estados Unidos. E teve moda praia para usar na cidade, da Sherida.
Veja detalhes das apresentações
Sherida

A coleção Ninféia, da Sherida, da estilista Sherida Livas, abriu o último dia da Casa de Criadores é delicada, sensível, doce e forte.

O nome homenageia as flores resistentes e mutáveis, mostrando ao mesmo tempo leveza e rigidez, para retratar a força feminina na sociedade.

Com roupas inspiradas no beachwear, mas com vontade urbana, uma vez que eram feitas de algodão, maiôs vinham com gola e mangas e bíquínis era aplicados na frente e nas costas de camisetas. Destaque para o top de cerâmica e as luvas feitas com pétalas de rosa.

Marisa Moura

O resgate das raízes negras no Brasil é o trabalho de anos da estilista Marisa Moura, que estreou na Casa de Criadores com a coleção “Negras Memórias, Memórias de Negros”, usando materiais como algodão cru, juta e barbantes, além de retalhos de tecidos, refazendo técnicas de upcycling ancestrais.

No casting, negros e negras de todas as idades e silhuetas encheram a passarela de alegria, dança e música, com seus looks largos, bordados com desenhos orgânicos e enfeitados com crochê e macramê. “Eu não faço moda. Faço cultura”, disse Marisa ao “Elas no Tapete Vermelho”, pouco antes da apresentação.

Marisa Moura mantém uma ONG com mulheres com mais de 60 anos, cujo objetivom principal e divulgar e resgatar a cultura negra de raiz. E o que foi mostrado foi exatamente isso. “Queríamos reproduzir o que os negros faziam na senzala.”

UMS 458 – LL

Aquele streetwear de respeito, maximalista ao extremo, desfilou na passarela da UMS 458 – LL, com direito a sobreposições de texturas, estampas, aviamentos, couro, além de peças largas e muito mais. Tudo remetendo a 2009, tempo em o estilista Lucas Lyra viveu em Nebraska.

Lucas conseguiu fazer uma ode contra o minimalismo e o quiet luxury, como ele disse em entrevista ao “Elas no Tapete Vermelho”, antes do desfile.

E isso inclui também maxiestampas, que tomavam toda a parte da frente de algumas peças, além de sobrepoisções e misturas de estampas.
Afro Perifa

A marca AfroPerifa, de Will Da Afro, fez um desfile forte, para dar voz aos negros, muitas vezes assassinados apenas por causa da cor.

“Luto à Luta. Corpos Pretos em Territórios de Exclusão” veio em câmera lenta, para causar suspense e prender a respiração, até o ultimo look em que o modelo levava um saco enorme nas costas, com um alvo desenhado. Ao som de tiros, ele saiu correndo.

O desfile-denúncia, além de materializar resistência e denúncia, trouxe um streetwear feito com alfaiataria boa e leve, com casacos, vestidos, jaquetas e calças que traziam, alguns, estampas de rostos negros desenhados.

Em vários tons de marrom, as peças tinham também um perfume utilitário, para todos os tipos de corpos. O tema do desfile foi traduzido também por camisas com mangas compridas, que faziam referência a camisas de força. Destaque para a saia em camadas marrom, usada com blusa de capuz marrom.
Jal Vieira Brand

O luto, após a morte da tia Lulu, moveu a criação do desfile da Jal Vieira Brand, da estilista Jal Vieira, com uma apresentação contida e emocionante. Na cartela de cores, azul e preto, com um pouco de verde.

As duas primeiras eram as cores que a tia Lulu usava no fim da vida. Mas um dia, experimentou uma jaqueta verde e amou.

A lembrança da tia querida veio também nos maxibrincos, com fotos estilizadas dela e da família, numa espécie de relicário modernizado.

O sentido de casa, de lar, esteve presente nos tecidos adamascados de tapeçaria e na bolsa em forma do telhado da casa em que viviam. Na trilha sonora, músicas de Roberto Carlos.