A grife de leatherwear carioca Frankie Amaury está no imaginário fashion de quem vivieu os anos loucos da virada de 1980 até meados dos 2000, onde a moda e o high society carioca eram como unha e carne. A grife era capitaneada por Frankie Mackey, argentino de Rosário, e Amaury Veras, nascido na Tijuca, Zona Norte do Rio. A história da dupla terminou em tragédia, envolvendo morte e acusação de assassinato, mas o legado alegre e colorido, tirando o lado formal e sisudo até então visto em peças de couro, começa a ser resgatado, 45 anos após o lançamento da marca e 20 anos após seu término.
Dois itens icônicos da dupla estarão de volta ao mercado a partir desta terça-feira (30) pelas mãos da sobrinha de Amaury, Renata Veras, herdeira da grife: a mochila de couro com ilhoses metálicos, objeto de desejo durante os 25 anos de percurso da dupla, que circulava pela noite carioca com nomes como Vera Fischer e até com Jerry Hall, modelo e ex-mulher de Mick Jagger. Nos desfiles-espetáculos promovidos pela dupla, a iniciante modelo Yasmin Brunet, de 16 anos, também cruzou as passarelas da marca.
São 11 variantes de cor, incluindo um animal print – clássico-perua da Frankie Amaury – tanto da mochila quanto da bolsa saco, que poderão ser encontradas no site e Instagram da marca e na Pinga de Ipanema, e, a partir de junho, na filial paulistana da multimarcas comandada por Catharina Tamborindeguy Johannpeter, filha de Narcisa Tamborindeguy, justamente a amiga unha e carne dos meninos.
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As peças são feitas de couro de cabra certificado, bem fino e toque macio. As alças são reguláveis e os metais personalizados. A mochila custará R$ 3.450 e a bolsa tipo saco, R$ 1,2 mil.
Para marcar esse relançamento, foram convocadas três modelos-síntese da dupla, que fizeram inúmeros desfiles e campanhas para a marca. Fátima Muniz Freire, Alexia Dechamps e Silvia Pfeiffer. As duas primeiras estão no shooting e Silvia estrela o fashion film.
“A leitura inovadora, irreverente e audaz do couro, e ao mesmo tempo superchique, fez com que, seja quem usasse ou quem estivesse mostrando Frankie Amaury, todos curtissem aquela moda”, lembra Silvia.
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Fátima Muniz Freire faz coro com Silvia: “Devemos a eles a validação de que a roupa de couro não tem dia, hora ou estação. Eles ampliaram a potência do look em couro. Amaury tinha um olhar adiante do seu tempo e as novas gerações precisam muito conhecê-los. Já tive um armário inteiro só de Frankie Amaury”.
“Tenho conhecidas cujas mochilas originais, dessas que estamos relançando, estão inteiras há mais de 30 anos. Eu mesma guardo um casaco, que amarrava na cintura e ia até a metade da coxa, do qual me recuso a desfazer”, completou Alexia.
“Existe um imenso valor afetivo por quem viveu aquela época, era cliente e conviveu com os dois naqueles tempos disruptivos, tão politicamente incorretos que hoje não seriam possíveis, mas absolutamente divertidos. As mochilas da marca eram algumas das peças mais icônicas, tanto que continuaram fazendo o maior sucesso mesmo com a abertura do Brasil para a moda internacional e a enxurrada de marcas gringas por aqui a partir do final do século 20. Quem ainda tem a sua FA não abre mão; é item-fetiche, coisa de colecionador”, contou Renata.
Ela precisou garimpar os arquivos originais da Frankie Amaury para poder desenvolver novamente um dos modelos então à venda, assim como uma bolsa saco. “Praticamente não havia mais nada, muito se perdeu. Quando a marca acabou, em 2004, nada estava digitalizado, mas sobraram fotografias e croquis. Foi preciso matriciar de novo todas as ferragens personalizadas, fechos e maxi-ilhoses”, completou.
Para relançar a marca, Renata convocou o diretor Criativo Alexandre Schnabl, seu professor na Faculdade de Moda da UCAM na virada do milênio e que trabalhou com visual merchandiser na Frankie Amaury de 1998 a 2002: “Esse é um projeto de afeto, não apenas pelo que a grife representa para a história da moda carioca e brasileira, mas pelo o que vivi ao lado de Amaury nestes últimos momentos da sua trajetória, pouco antes de tudo o que aconteceu, quando ele morreu e depois Frankie abandonou o Brasil”, disse Schnabl.
O ressurgimento da Frankie Amaury antecipa dois projetos relacionados à marca: uma biografia escrita também por Schnabl, a partir da pesquisa do acervo conservado por Renata, e um filme dirigido por José Henrique Fonseca, de “Bom dia, Verônica”, produzido pela Zola Filmes.
Tragédia
Em 2004, Amaury Vera foi encontrado morto em seu apartamento no Arpoador, com uma echarpe enrolada no pescoço. O caso foi tido, inicialmente, como suicídio, mas uma perícia descobriu que ele fora assassinado, com golpe na cabeça e, em seguida, enforcado. A suspeita, de acordo com o Ministério Público, recaiu sobre Frankie Mackey, que morreu em 2015, em Rosário, na Argentina, onde estava foragido desde 2006, quando a prisão preventiva foi decretada. Frankie morreu pouco tempo antes de ir a júri popular, mesmo estando em outro país. Após sua morte, o caso foi arquivado.