CdC: Ancestralidade, afeto e ousadia marcam 4º dia de desfiles

O quarto dia da Casa de Criadores 57 reafirmou a potência da moda autoral brasileira, em coleções que tocaram memória, ancestralidade, tecnologia, afeto e pura vibração cultural. Entre homenagens íntimas e experimentações estéticas, a passarela revelou moda como narrativa viva.

Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Da delicadeza espiritual de “Céu de Nana”, da Nalimo, ao calor irreverente da Hot Couture da Koia, passando pela força ritual da Bori e pela poesia de “Memórias Afetivas”, o dia mostrou que criar é também lembrar, questionar, sentir e celebrar — sempre com identidade.


Nalimo — “Céu de Nana”

Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A Nalimo apresentou “Céu de Nana”, uma coleção profundamente afetiva, criada em homenagem à avó materna da designer Day Molina. A passarela foi preenchida por peças que entrelaçam alfaiataria com artesania ancestral: bordados, miçangas, fitilhos, tecelagens, elementos do candomblé, jurema evocam a força espiritual dessa linhagem feminina. Cada look traduz o gesto da costura como herança e como oração. Naná era mulher nordestina, originária do agreste pernambucano, indígena da etnia fulni-ô. “Vovó era guardiã do invisível, guardadora de histórias, porta-voz do Orùm. Um céu ancestral para curar”, escreveu Day Molina.

Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Em clima de saudade luminosa, a marca veste presença e não ausência. “Céu de Nana” trata a memória como energia que permanece, não como passado que se encerra. Texturas, camadas e transparências funcionam como portais simbólicos, revelando a ideia de que o que vem da ancestralidade não desaparece: apenas se transforma em luz.

Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Maxi Webe no desfile da Nalimo (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

“Há memórias que não cabem em fotografias. Há presenças que não dependem do corpo para existir. Há avós que, mesmo invisíveis, continuam bordando a vida com fios de luz. Esta coleção nasce desse lugar: do silêncio que ainda diz seu nome, da saudade que não dói”, afirmou a estilista.


Berimbau Brasil — Coleção Bori

Berimbau Brasil (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Berimbau Brasil (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Inspirada no ritual do Bori, a Berimbau Brasil, assinada pelo estilista Sandro Freitas,  trouxe à passarela uma coleção que fala de cuidado, equilíbrio e nutrição espiritual.

Berimbau Brasil (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Berimbau Brasil (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

As peças traduzem essa busca por proteção e força interior em cores, texturas e símbolos que evocam acolhimento. É moda que nasce de uma prática ancestral, recontada para o presente com potência visual.

Berimbau Brasil (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Berimbau Brasil (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A coleção também se fortalece em colaborações de artistas que compartilham essa herança — Da Costa Colares, Chinua, Crochê Aleatório, Lunettes by Lari e Afropé. Cada parceiro acrescenta manualidade, cerâmica, crochê urbano, ótica autoral e identidade periférica, transformando a Bori em uma rede de memórias e talentos negros que caminham juntos.


Marisa Moura — “Memórias Afetivas”

Marisa Moura (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Marisa Moura (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Em sua segunda participação no evento, Marisa Moura apresentou “Memórias Afetivas”, coleção construída sobre saberes compartilhados e transmitidos por gerações. As peças — amplas, volumosas e pensadas especialmente para mulheres — celebram a moda artesanal brasileira e reafirmam a importância do afeto como ferramenta de criação.

Marisa Moura (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Marisa Moura (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A paleta neutra, com creme, bege e ocre, somada a materiais como algodão cru, juta e barbante, reforça uma elegância simples e ancestral. O uso de retalhos da indústria têxtil aponta para a sustentabilidade e transforma sobras em narrativas.

Marisa Moura (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Marisa Moura (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

É também um manifesto contra a invisibilização de mulheres maduras na moda, reposicionando experiência, corpo e memória no centro do vestir.


Sillas Filgueira — “Monstro”

Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A Sillas Filgueira Brand explorou vulnerabilidade e libertação em “Monstro”, coleção que revisita medos, traumas de infância e abusos profissionais, em seu desfile na Casa de Criadores.

Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Maxi Weber no desifle de Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Três casacos com pequenos monstros de pelúcia funcionam como símbolos desse passado, contrapostos ao brilho, ao glamour e aos volumes característicos da marca.

Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

É uma coleção de transição entre verão e inverno 2026, mas sobretudo uma narrativa de cura. Ao transformar monstros pessoais em adornos de moda, Sillas constrói um diálogo sensível sobre enfrentar sombras e recuperar o próprio corpo através do ato criativo.

Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Sillas Filgueira Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Koia — “Hot Couture”

Koia Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Koia Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A Koia, do diretor criativo, Kaio Koia, elevou sua estética caracteristicamente ousada com “Hot Couture”, uma coleção que brinca com a tradição da haute couture ao mesmo tempo em que a subverte.

Koia Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Koia Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Alfaiataria rigorosa se encontra com sensualidade explícita em volumes arredondados, recortes provocantes e texturas exuberantes — veludos, pelúcias, lã e brilhos que criam um repertório tátil sofisticado e irreverente.

Koia Brand na Casa de Criadores (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Koia Brand (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Silhuetas geométricas estruturam a coleção, enquanto a icônica “duna” da marca retorna em novas bases e proporções. “Hot Couture” funciona como manifesto: celebra o desejo, o calor e a liberdade do vestir, oferecendo uma visão contemporânea da moda festa, expandida e despretensiosa.


Fkawallys Punk Couture — “Rock Doido”

Fkawallyspunkculture-(Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fkawallyspunkculture na Casa de Criadores (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

A FKAWALLYS trouxe para São Paulo a vibração eletrizante do “Rock Doido” paraense, movimento cultural que mistura tecnobrega, funk, carimbó e batidas eletrônicas.

Fkawallyspunkculture-(Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fkawallyspunkculture (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

O dono da marca Fábio Kawallys, em parceria com Régis Starlight, criou uma coleção que é pura energia — moda que brilha como LED de aparelhagem e que transforma corpo, dança e identidade em espetáculo.

Fkawallyspunkculture-(Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fkawallyspunkculture (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

É uma celebração da cultura do Pará em sua forma mais visceral. Cores, brilho e exagero compõem looks que convidam o público a sentir, e não apenas ver. Uma coleção para sacudir a cidade e afirmar a força da estética periférica e amazônica.

Fkawallyspunkculture na Casa de Criadores(Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fkawallyspunkculture na Casa de Criadores (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Fábia Bercsek— “Amiga 25/26”

F[abia Bercsek (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fábia Bercsek (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Fábia Bercsek apresentou “Amiga 25/26”, coleção que une moda, arte e tecnologia sob a metáfora do computador Amiga, da década de 1980. A designer transforma conceitos de interface, camadas, sistemas e códigos mínimos em linguagem estética, fazendo do corpo uma superfície que traduz sensações, estímulos e informação.

Fábia Bercsek (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fábia Bercsek (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

O trabalho se recusa a hierarquizar tecidos ou processos: tudo — novo, reciclado ou reconstruído — é matéria-prima do mesmo sistema criativo.

Fábia Bercsek na Casa de Criadores (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Fábia Bercsek (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

Sobreposições, texturas híbridas e o rosa simbólico compõem uma coleção que não conta história linear, mas opera como ambiente aberto, onde emoção, tecnologia e fantasia coexistem. É o universo “very Fábia” atualizado, reafirmando a moda como processo expandido.

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