A 56ª edição da Casa de Criadores, que acontece até domingo (27) no Centro Cultural São Paulo, contou, em seu segundo dia (nesta quarta, 23), várias histórias, que remetem às memórias dos estilistas, com direito a bonecas e misturadas à ficção científica, incluindo inspirações em alienígenas, sem deixar de lado a alfaiataria, que muitas vezes, foge do comum.

Ora, surgem infladas, oversized, com plantas saindo de suas “entranhas”, ora são vistas com reminiscências nos avôs de estilistas. Teve também reinterpretações do Jardim do Éden e como questões que discutem corpos divergentes, com maquiagem inspirada no circo. Os corpos das mulheres japonesas também mereceram reflexões, com um casting totalmente nipônico. Confira as criações de cada marca.
Shitsurei

A estilista Marcella Maiumi, da Shitsurei, resolveu levar para a passarela da Casa de Craidores o incômodo que tange sua racialidade nipônica. Nascida do Brasil, desde pequena era vista como um ser de fora, quase um extraterreste.

Daí nasce a coleção Objeto Desconhecido, em que o casting 100% japonês, incluindo a influencer e atriz Ana Chiyo, do meme da vendedora da Zara, andavam com os braços abertos, alguns finalizados com luvas maiores que a mão, lembrando ETs.

A coleção trazia cores e modelagens que lembravam os anos 1960, quando a ficção científica ganhou vida na moda e nas artes.

As roupas vinham em cores como verdes, amarelos, lilás, azuis, rosa e metalizados, com detalhes que se expandiam para fora da peça ou do corpo.
Cynthia Mariah

O circo foi o ponto de partida para a coleção Abre Alas, de Cynthia Mariah, deixando isso explícito com a maquiagem colorida e quadriculada, como dos espetáculos sob a lona.

Com sobreposições e cores clara, a estilista mostrou uma coleção para corpos diversos, como os vistos nos circos, influenciada ainda pelas vestimentas dos ciganos, que dão vida aos circos.

Marlo Studio

Uma nova visão sobre o Jardim do Éden foi o ponto de partida para Marcio Lopes, da Marlo Studio, criar a coleção Santae (derivação da palavra “santa”, que ganha um sentido neutro).

Essa releitura do Paraíso traz seres que podem ter sido expulsos de lá, retratados em peças agêneras, incluindo estampas de pessoas com sexo indefinido.

As roupas traziam peças largas, sobrepostas, ou levemente ajustadas, em tons de verde, rosa-claro, preto, algumas com estampas de rosas, mas todas construídas de formas sustentáveis.
Guilherme Dutra

As memórias construídas através do perfume e do pó-de-arroz de sua avó guiam o estilista Guilherme Dutra a construir sua coleção Poupées (bonecas, em francês).

As cores vinham em tom claros, como o rosa-bebê, e também em marrons, vinho e pretos.
Os jeans entraram no repertório do estilista, que trabalhou na Ellus, assim como peças largas e de modelagem orgânica, com ombros arredondados.

Costureiro de mão cheia, ele fez todas as roupas desfiladas, que traz uma alfaiataria bem construída, inspirada na roupa de seu avô.

Daí também várias gravatas, incuindo o vestido rosa curto, feito só com os acessórios costurados.
Erico Valença

O estilista Erico Valença deu adeus à marca Neoutopia, com o desfile “adiaû” (“adeus” em Esperanto). Sempre com foco na ficção científica, o criador de Natal (RN) imagina os humanos fugindo da Terra, com roupas de alfaiataria minimalistas, mas nada justas.

As peças têm perfume dos anos 1960, do construtivismo soviético da primeira metade do século 20 e do vestuário de seu avô, pianista, que não abria mão das roupas bem cortadas.

Destaque para os acessórios, como os óculos em forma de olhos de seres extraterrestre, que invadem o imaginário da Sci-Fi.
Visén

O artista é estilista Visén misturou surrealismo, utopia, também ficção científica e alfaiataria com modelagem fake em sua coleção “Visceral”, que fechou o segundo dia da 56ª edição da Casa de Criadores.

O “vírus verde”, imaginado por ele, cresce mais do que o previsto e infla as modelagens, deixando muitas vezes plantas assumirem o lugar de acessórios.

Mas calma, além do look tipo casa, há peças oversized e xadrezes que dialogam com o mundo real.