Casa de Criadores volta ao Centro Cultural SP com 33 desfiles

A 56ª edição da Casa de Criadores (CdC) começa nesta terça-feira (22) com 33 desfiles, dois retornos e três estreias, com o gancho que sempre norteou o evento de moda, criado  há 28 anos, por André Hidalgo: funcionar como plataforma para impulsionar e projetar criadores autorais na moda, sempre em interlocução com as muitas áreas da economia criativa. Os desfiles acontecem até domingo (27) no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, depois de um ano no Vale no Anhagabaú.

Desfile do Studio Ellias Kaleb na 55ª ediçõ da CdC (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)
Desfile do Studio Ellias Kaleb na 55ª edição da CdC, no Anhangabaú (Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite)

“A Casa de Criadores sempre promove um diálogo intenso com a cidade — e isso passa, principalmente, pelos lugares onde o evento acontece. Costumamos ocupar espaços icônicos, históricos e inusitados. O Centro Cultural São Paulo é exatamente isso: um marco urbano com uma arquitetura democrática, pós-brutalista e cheia de personalidade. Estamos muito felizes em voltar a esse palco tão simbólico, numa edição que quer exaltar, mais do que nunca, a roupa e o trabalho dos nossos estilistas”, afirmou o diretor André Hidalgo, no perfil do evento nas redes sociais. “É um equipamento da cidade de São Paulo muito incrível. Pra gente é muito bacana estar aqui e estamos com muita expectativa”, afirmou também ao Elas no Tapete Vermelho.

Ele disse ainda, em entrevista o “Elas”, que quando percebeu que tinha estilistas brasileiros fazendo uma moda autoral, supercriativa e interessante, que falava com a rua, com a cidade, com a periferia, e trazia essa pegada democrática, de acessibilidade, de conversar com todos os públicos, entendeu que tinha um potencial muito grande e só de crescimento. Isso em 1997. “Sempre soube que isso iria quebrar paradigmas da moda e continua quebrando”, acrescentou, ao finalizar. “Fico muito feliz de ter tido essa visão e mais feliz ainda de proporcionar esse espaço tão incrível para tanta gente talentosa, porque tudo o que a gente faz aqui é para os estilistas. Sem eles, a Casa de Criadores não existiria.”

O line up conta com o retorno de Fábia Bercsek e Guilherme Dutra. Entre as estreias, estão Lucas Caslu, Guilherme Paganini e Marisa Moura.

Marisa Moura é artesã, mulher negra, periférica e guardiã de uma herança cultural poderosa, que fez curso de corte e costura ainda adolescente e seu primeiro trabalho apareceu em um desfile de moda afro, em 1997. “À frente de um coletivo formado por mulheres negras com mais de 60 anos, Marisa transforma retalhos, algodão cru e rendas reaproveitadas em roupas que carregam memória, ancestralidade e identidade”, descreveu a Casa de Criadores nas redes sociais. “Não sou estilista e não faço moda. Faço cultura. 100% brasileira. O conhecimento é libertador”, completou a estreante.

 “Foi na Casa que meus olhos brilharam pela primeira vez. Voltar agora, em outro lugar, com voz e visão, tem um peso muito íntimo pra mim”, afirmou Guilherme Paganini, que já havia participado da CdC como modelo. Nesta estreia como estilista, apresentará a coleção “Raízes”, atravessada por afetos, memórias e heranças familiares, construída ao lado da mãe e com base em processos sustentáveis e manuais. “Tenho os pés no chão e a cabeça nas nuvens, como uma árvore”, afirmou nas redes sociais do evento.

Lucas Caslú estreia no line up oficial da Casa de Criadores, após vencer a terceira e mais recente edição do Desafio Sou de Algodão, no último semestre de 2024. “A coleção nasce de uma imersão profunda em seu próprio repertório criativo. Caslú revisitou croquis antigos, experimentos e peças anteriores, costurando um processo livre, intuitivo, que funde memória e invenção. Se no último desfile a transição entre looks era mais sutil, aqui a proposta é outra: ruptura, contraste, impacto. Cada look carrega uma força própria — mas juntos, formam um corpo coeso, conectado em sua diversidade.

Os desfiles acontecerão na sala Tarsila do Amaral, que terá uma passarela em U para receber as apresentações. Fábia abrirá o evento com uma coleção desenvolvida a
partir do design circular, com peças criadas pela técnica do upcycling.

Guilherme Dutra é um nome revelado dentro da própria Casa de Criadores, no Desafio Sou de Algodão, concurso promovido em conjunto com a organização Sou de Algodão, que patrocina a CdC, para revelar o trabalho de estudantes de moda recém-formados, oriundos de todas as regiões do país. Guilherme foi o vencedor da segunda edição do desafio, no primeiro semestre de 2024, e agora participa com o próprio desfile, mostrando a coleção “Poupées”, bonecas em francês.

Na quarta-feira (23), quem abre os desfiles é a marca Shitsurei, que levará uma estética Sci-Fi, com a coleção “Objeto Desconhecido”, que ironiza o exotismo e a desumanização que ainda marcam a experiência de mulheres nipo-brasileiras. “A assinatura japonista da marca, a coleção transforma o corpo em ‘alienígena colecionável’ — observado, fetichizado, mas nunca compreendido”, explicou o perfil do evento nas redes sociais.

Confira o line-up

Terça-feira, 22 de julho

Desfile: 18h30

Fábia Bercsek

Desfile: 19h

Ken-gá
Lucas Caslú
ALEBRITOxStudio115

Quarta feira, 23 de julho

Desfile: 18h

Shitsurei
Cynthia Mariah
Marlo Studio

Desfile: 20h

Guilherme Dutra
‘ericovalença’ (‘a neoutopia)
Visén

Quinta feira, 24 de julho

Desfile: 18h

Casa Paganini
DELLUM
SUKEBANwear

Desfile: 20h

Vittor Sinistra
Plataforma Açu
Estúdio Traça

Sexta feira, 25 de julho

Desfile: 18h

Yebo
JACOBINA
GUMA JOANA

Desfile: 20h

Monica Anjos
Filipe Freire
Rober Dognani

Sábado, 26 de julho

Desfile: 16h

NALIMO
BERIMBAU BRASIL
NotEqual

Desfile: 18h

Studio Ellias Kaleb
Fkawallyspunkculture
Le Benites

Domingo, 27 de julho

Desfile: 16h

SHERIDA
Marisa Moura
UMS 458 – LL

Desfile: 18h

Afro Perifa
Jal Vieira Brand

Exposições durante o evento
Sérgio Goulart vai expor suas criações na CdC 56 homenageando nomes fundamentais da moda do século XX – Charles Frederick Worth, Madame Grès, Madeleine Vionnet, Charles James e Rudi Gernreich – com cinco looks , produzidos com tiras de tecido e colocados em manequins. Sérgio faz referência aos cânones da alta costura desenvolvendo seu trabalho com abordagem circular e uma técnica autoral, baseada em fórmulas matemáticas vindas de elipsoides de revolução, ou seja, de formas elípticas que giram em torno de um de seus eixos.

 

A plataforma Vou Assim, idealizada pela artista A Pimentel, também aborda técnicas que transformam a matéria prima têxtil. Batizada de TRANSMUTA, a exposição tem curadoria de Pimentel, produção técnica de Lua Ayo Ayana e é composta por peças criadas a partir de processos de transmutação têxtil. Desta forma, propõe-se um olhar para além da roupa: cada fio carrega memória, resistência e um desejo profundo de futuro. Sustentabilidade, arte e política se entrelaçam para contar histórias de quem ousa existir fora do molde.
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Os artigos têxteis para jeanswear da Santista vão ser usados nas coleções de 13 estilistas do line-up da CdC 56: Berimbau Brasil, Dellum, Guilherme Dutra, Guma Joana, Mônica Anjos, Nalimo, Plataforma Açu, Studio Ellias Kaleb, Sukeban, UMS 458-LL, Visén, Vittor Sinistra e Yebo. A Santista reafirma na CdC 56 sua posição de aliada dos designers na criação de moda, fornecendo matéria-prima inovadora como um dos elementos que conduz o processo criativo.
A REPREVE ® é líder mundial na produção de fibras recicladas de alto desempenho, feitas a partir de garrafas plásticas pós-consumo, com tecnologia própria, rastreabilidade e inovação sustentável. Na CdC 56, marca presença por estar na composição do artigo Re Power Denim, tecido sarjado de alta performance criado com o fio sustentável REPREVE ® e produzido pela própria Santista. As coleções das marcas Ken-gá e Le Benites terão dois looks cada, feitos com o material que contém a fibra reciclada, unindo sustentabilidade e a tecnologia.

O desenvolvimento do fio sustentável da REPREVE ® já transformou mais de 40 bilhões de garrafas PET desde o seu lançamento, em 2007. O denim exclusivo, feito com o fio sustentável, permite que cada jeans Re Power Denim promova, em média, a remoção de cinco garrafas plásticas do meio ambiente, evite a emissão de 198 gramas de dióxido de carbono e economize 3,4 litros de água. A REPREVE ® faz parte do guarda-chuva da empresa UNIFI Inc. e está na vanguarda da inovação sustentável há décadas, com tecnologia própria de impressão digital rastreável, nomeada Fiber Print ®, além de produzir e fibras sustentáveis. Esse processo permite verificar, homologar e auditar os produtos.

 

Novos Talentos: Quarto Desafio Sou de Algodão

 

Iniciativa já reconhecida e bem-sucedida dentro da Casa de Criadores, o Desafio Sou de Algodão é um concurso aberto a recém-formados em Moda de todo Brasil, em que serão selecionados participantes para estrear na passarela da CdC nas edições seguintes. O Desafio é realizado pela CdC em parceria com o movimento Sou de Algodão, ligado à Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa). A quarta edição do concurso será lançada na inauguração da sendo abertas as inscrições e divulgados os requisitos necessários para participação.

O Desafio Sou de Algodão contempla as cinco regiões do país, escolhendo entre os finalistas um representante para cada parte do Brasil. Em 2026, esses trabalhos serão avaliados por um corpo de jurados vindos de várias frentes da moda nacional. O vencedor receberá R$ 30 mil e terá um lugar no line-up da edição do segundo semestre desse ano. O Desafio reforça o compromisso da Casa de Criadores de oxigenar a cena criativa da moda brasileira e descentralizá-la, trazendo protagonismo para criadores de regiões além dos grandes centros.

 

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